venerdì 27 dicembre 2013

Desigualdade fictícia

O homem com o avião pensava:
- Olhe como estão se matar aí em baixo! Aquele que governa a vela do seu barco, aquele com a canoa, aquele que nada e o outro com o balão aerostático que não consegue nem sequer escolher a destinação.

O homem com o balão aerostático pensava:
- Olhe esses que estão a se matar aqui em baixo! Todos no mar a arrebatar-se para alcançar a ilha, enquanto eu me deixo transportar pelo vento e me canso muito menos.

O homem com o barco a vela pensava:
- Olhe esses a se matarem aí atrás! Um a remar até não poder mais e o outro a nadar exausto. Enquanto eu dirijo a minha vela até a ilha e chegarei lá bem antes deles.

O homem com a canoa pensava:
- Olhe como nada aquele coitado! Pensa que vai conseguir chegar até à ilha este pobrezinho, enquanto eu com a minha canoa chegarei de forma muito mais segura. Só mais um pouco de sacrifico e já estou lá.

O homem que nadava, nadava só e mais nada.

A noite todos se encontraram a caminhar na praia da ilha. O homem do avião olhava os outros de cima pra baixo, como se ainda estivesse no avião. O homem do balão falava com reverência ao homem do avião, mas desprezava todos os outros. De tal maneira, o homem do barco a vela não ousava em dirigir palavras ao homem do avião, mas perguntava ao homem do balão o que homem do avião tivesse dito, enquanto se gabava com o homem da canoa de saber o que disse o homem do avião. O homem que nadava, caminhava só e mais nada.

Nenhum deles dava conta que um avião tem sentido somente quando voa e o barco quando navega. Todos se sentiam aviadores e navegantes, mesmo encontrando-se na terra, que é só terra, um lugar onde o homem é o que é e não aquilo que mostra fazer.
Confundidos pelas suas acções, todos se tinham esquecido de ser simplesmente aquilo que que eram.

                     

Somos todos iguais, independentemente do que fazemos. Viemos todos do mesmo sítio e vamos todos a uma só destinação. Isto, a nossa sociedade parece que nunca vai entender.

giovedì 8 agosto 2013

Mundos Paralelos Modernos

Hoje em dia existem dois mundos paralelos. O mundo real e o mundo virtual (que para muito também é real).

Existem duas vidas nas quais alguém se pode dedicar. Na vida virtual encontramos o Facebook, o Twitter, o WhatsApp, Viber, Line, Tango, WeChat, etc., enquanto na vida real encontramos os contactos físicos. Normalmente essas vidas não andam de mãos dadas. Os amigos da internet na maior parte dos casos não coincidem com os amigos da vida "física", e o carácter, assim como os comportamentos, são completamente diferentes do comportamento na vida física. Praticamente são duas pessoas completamente diferentes. Infelizmente, quanto mais os anos passam, mais as pessoas parecem aproximar-se ao mundo virtual.

Eu olho ao meu redor quotidianamente, e vejo cada um completamente colado ao seu iPod, iPad, iPhone, Galaxy, Lumia, etc., sem sequer se importar com que acontece ao seu redor. Pessoas que estão sempre dispostas a dar um "oi" se estiverem online na internet, mas que nem sequer encontram a coragem para se cumprimentarem se encontram-se um ao lado do outro. Podes até apanhar dinheiro ao lado deles, mas nem se vão aperceber. Estão todos concentrados nos produtos tecnológicos e nas relações virtuais.

O contacto corpo a corpo entre amigos, o tempo passado a ler um livro (de papel), as horas intermináveis a olhar para a lua e a contar as estrelas, as longas conversas de família... são conceitos desconhecidos para muitos amantes da tecnologia e da modernidade. A perda desses particulares no dia-a-dia de cada um faz com que o ser humano perca a capacidade de viver intensamente e fisicamente os momentos mais importantes da nossa vida. Tudo o que fazemos hoje em dia, é só a pensar no que vai acontecer depois de publicarmos na internet o que nos está a acontecer, e essa contínua obsessão em pensar no que vai acontecer no futuro, faz-nos perder a capacidade de viver plenamente e intensamente o presente.

Com isso não pretendo dizer que não devemos estar actualizados com a tecnologias (até porque eu também sou um grande viciado), mas que simplesmente devemos saber dividir os momentos. Tem momentos para a vida virtual, mas também tem momentos para a vida física. É bem verdade que muitos recorrem à vida virtual para tentar fugir dos males e dos problemas desse mundo, encontrando no virtual um mundo completamente diferente e distante das malambas da vida, mas devemos ao mesmo tempo saber que a prioridade tem que ser dada à vida física, porque é sobretudo através desta que vivemos intensamente os momentos mais importantes, reais, preciosos e delicados da nossa vida.

Vamos viver a vida. Vamos apreciar o presente. Vamos apalpar e abraçar a vida com os nossos próprios corpos, porque o valor de abraço físico não se compara com um simples emoticom, assim como a importância e a preciosidade de um sorriso não se pode comparar com um "lol" ou com um ":-)". É muito mais do que isso. Muito mais.



mercoledì 26 giugno 2013

O Trabalho Escraviza


"Arbeit macht frei", que traduzindo em português significa "o trabalho liberta", é a escrita que aparecia a entrada dos campos de concentração nazistas durante a segunda guerra mundial. A escrita tornou-se famosa porque exprimia o exacto contrário do que acontecia dentro dos campos de concentração.  Em vez da liberdade, os hebreus que lá se encontravam presos muitas vezes eram brutalmente assassinados, e praticamente ninguém conseguiu a liberdade.

Esses tempos já passaram, e hoje todos dizemos que o trabalho dignifica o homem. Mas isto não passa de um condicionamento psicológico que nos é imposto pela sociedade. Me pergunto: que sentido há em acordar todos os dias as 7 para ir ao trabalho satisfazer o interesse de outras pessoas, e voltar as 19/20 horas em casa, 6 dias por semana, por causa de uns trocados que nos serve para comprar comida e bens materiais? E a vida? Que tempo sobra ao ser humano para usufruir da própria vida? Essa vida pode ser usufruída no único dia da semana que resta a disposição?

Eu a isso chamo escravidão. Uma escravidão moderna, psicológica, e muito mais eficaz. Porque o escravo verdadeiro não é aquele que está acorrentado, mas aquele que pensa que o seu proprietário o faz um favor e é incapaz de imaginar a liberdade. As pessoas fazem enormes sacrifícios e renunciam em viver a própria vida pensando: "vale a pena lamber o chão do que morrer". O horrendo dessa cultura é quando lamber o chão torna-se numa aspiração. Monstruoso é ter que ir ao trabalho, 8 horas por dia e 6 dias por semana, satisfazer interesse alheios, e ainda por cima estar grato a quem lhe faz lamber o chão.

Hoje em dia esse não é trabalho. É escravidão. É deixar roubarem-te a própria vida. É permitir com que sejas dominado pelo sistema social que nos impõe a viver para trabalhar, e não a trabalhar para viver. E com isso não quero apoiar a preguiça, ou como é mais conhecido por nós, a kunanguisse. O importante é abolirmos a condição psicológica que afirma que o homem útil é aquele que produz "frutos económicos", e não aquele que prefere dedicar-se a arte, a leitura, etc., o que fez com os velhos, que antes eram fontes de saber e de memória, que com os seus conhecimentos constituíam a alma de uma comunidade, hoje fossem vistos como simples seres a serem mantidos em vida, sem nenhum valor humano ou espiritual, reduzidos a simples destinatários de serviços. 

O trabalho deve conviver com a liberdade. Fazer o que o se gosta de fazer. Viver a própria vida. E não renunciar a própria vida por mais de quarenta anos, simplesmente para poder obter uns trocados no fim do mês, que te permitirá comprar o pão e o leite.


Trabalhar é importante, mas não podemos nos deixar dominar psicologicamente.

"Temos que nos livrar da escravidão mental que nos liga ao mundo profissional de uma forma perversa, através de uma relação de ódio-dependência que nos aliena, nos consome e nos reduz a meros números". Francesco Bevilacqua


D.M.

giovedì 23 maggio 2013

Melancolia do Homem Que Pensa


O Homem Que Pensa vive na constante melancolia.

O Homem Que Pensa fica melancólico quando acorda, abre a janela do quarto e vê as pessoas a preocuparem-se somente com o superficial. Com o vazio. Quando vê pessoas que avaliam-se uns aos outros através do aspecto exterior, como o vestuário e da cor da pele. É como oferecer uma laranja a alguém e essa pessoa comer somente a casca e deitar as gomas. É como comer a película do rebuçado e deitar o rebuçado. O mesmo vê o Homem Que Pensa nas pessoas através da janela, que discriminam-se somente pelo que vêem no exterior.

O Homem Que Pensa gostaria de ter amigos. Divertir-se. Discotecas. Bebedeiras. Desafios. Mas a única coisa que o vê ao seu redor é um tremendo curto-circuito mental. Curto-circuito segundo o qual pior estão os outros, melhor estaremos nós.  O curto-circuito que faz com que se alguém no aeroporto na hora do check-in com um bilhete para a área executiva passa vendo que na área económica nao tem bicha, o estado de humor nao muda. Enquanto se ele ele vê que na área económica tem uma longa fila de pessoas, ele fica contente. Contente de saber que os outros estão a sofrer e ele não.

O Homem Que Pensa acha tudo banal. Tudo sem sentido. Tudo sem nexo. Acha que ou os homens estão todos loucos, ou ele é maluco. Então prefere fechar-se no seu quarto, com a sua melancolia, esperando encontrar um sentido na vida que parece que todos falará encontraram, só ele ainda não conseguiu encontrar. E vive na solidão.

"Existem dois modos para não sofrer o inferno no qual vivemos quotidianamente. O primeiro, que muitos conseguem facilmente: aceitar o inferno e fazer parte dele até ao ponto de não o notar mais. O segundo, é arriscado e requer muita atenção e aprendizagem contínua: procurar e saber reconhecer quem e qual, no meio do inferno, não é inferno, e o fazer durar, e dar-lhe espaço." Italo Calvino



D.M.

giovedì 2 maggio 2013

Facebook, onde anda a magia?




Pode parecer exagerado, mas a mim o Facebook fez atingir um nível de saturação sem precedentes. E a vocês também, mesmo se ainda não se tenham apercebido.

Entrei com entusiasmo. Abrir a janela e dar uma olhadela a amigos distantes, parentes perdidos, conhecidos que simpatizavam, desconhecidos que, lentamente, entravam na tua vida, simpatias inesperadas, imprevistas. Compartilhamentos de paixões, de brincadeiras, de noites a falar baboseiras inócuas, ou goliárdicas.

Depois algo aconteceu.

Talvez seja a multidão alargada, a massa indistinta que chegou, mas nasceu um stream disforme, um fluxo contínuo de palavras. Um conceito e o seu contrário, marés de rancores que se sobem e baixam e chegam a trair-te, deixando-te comprimido entre a vontade de replicar e um tédio mortal.

Coisas do passado, talvez uma noite que pensavas ao futuro.

Prolixidade, mediocridade.

A política, a cultura, a visão do mundo.

As conspirações, a Casta, as riquezas injustas.

Cada um que expõe o seu ponto de vista e tu és obrigado a ler. É como se existissem muitas portas abertas, e veio muita gente, e o rumor do fundo da humanidade, que as vezes é agradável, se tivesse tornado num rumor ensurdecedor.

É como se os rumores ligeiros que chegam da janela aberta, e te fazem companhia como uma brisa, se tivesse transformado num caos de um multidão que grita 24 sobre 24 horas.

Um alarme sempre ligado.

Um subtítulo infinito, sobretudo de baboseiras, que, pouco a pouco, secou as paredes da minha imaginação,  me esvaziou as ilusões sobre as pessoas e me produziu uma contínua dor de cabeça.

Hoje acho que convém voltar à antes.

Quando podia manter a tristeza dos outros fora, e talvez deixar por uma noite a capacidade de abraçar-me lentamente, esquecendo o mundo, que as vezes sente tal necessidade.

Nos tempos em que sabia de ter, como todos, um depreciador movido por invejas ou rancores pessoais mas o podia ignorar porque ele estava aí, e eu estava aqui, e estava protegido de qualquer estocada.

Nos tempos em quem, conhecendo alguém pessoalmente, tinha vontade de conhecer pouco a pouco os lados mais verdadeiros da sua vida, e não como agora que talvez sei já onde fez as compras no dia anterior, e quando faz anos (e que bolo comeu no Domingo passado).

Nos tempos em que os amigos eram verdadeiramente poucos, e eram bons amigos. Eram amigos aos quais podia dizer as coisas mais minhas, e os conhecidos eram tantos, e eram inócuos; nos tempos em que a confidência era uma conquista lenta, e não um direito.

Nos tempos em que escolhia eu com quem discutir, e com quem somente trocar ideias ocasionalmente porque não valia a pena.

E depois tem o teu vizinho que te pede amizade, e tu o manténs em espera.

"Porquê não aceitas o meu pedido de amizade no facebook?".

"Oh, me pediste amizade? Não tinha dado conta, sabes, entro pouco ultimamente".

E depois de aceitares, com ele que comenta somente em maiúsculo porque não vê bem, e depois ainda lhe deves lhe responder.

"Nunca respondes aos meus comentários. E depois estás sempre a reclamar de tudo porquê? não sabia que eras assim tão pessimista".

Sei, sei que os social networks são instrumentos de gestão, e que podem ser usados sem fazer-se usar. Sei que podes ignorar, banar, apagar, sair, caminhar, desligar, e depois voltar, que podes seleccionar, que podes usar pouco, que podes fechar e abrir quando te der na boia.

Mas é um poder somente aparente. Como quando tens em mão um telecomando e pensar de gerir a televisão porque mudas de canal, ou desligas.

Na verdade os canais estão aí, e o televisor não o desligas porque tem uma sugação hipnótica, um condicionamento psicológico, que nos mantém todos aí a fazer as mesmas coisas no mesmo momento.

Sei, sei que é uma lamentação ridícula. E sobretudo porque me estou a lamentar aqui. Ninguém me obriga, ninguém me força. Posso não estar, posso me apagar, posso seleccionar os conteúdos, posso estar calado, posso fazer o que bem me apetece.

Mas eu, este fluxo perpétuo de humanidade fica difícil de tolerar.

Talvez seja melhor voltar a alguns anos atrás  Quando a vida, lá fora, me parecia mais bonita porque estava a ler um livro ou estava simplesmente a olhar para as estrelas. Quando as pessoas com qual conversar se escolhiam uma por uma. Quando a emoção durava, e ao vizinho bastava sorrir e levantar uma mão para dar um olá.



D.M.

domenica 24 marzo 2013

O POVO SEM IDENTIDADE

 
Eu pertenço a um povo sem identidade.
Para chegar a essa conclusão nem foi necessário esforçar muito os neurónios. Basta somente fazer uma análise (nem sequer muito aprofundada) dos eventos que caracterizam quotidianamente a sociedade angolana.

Pertenço a uma sociedade onde é mais bonito e conveniente chamar-se Raul da Costa, porque se te chamas Matuvanga Xinamuti terás uma infância praticamente traumatizada pelas tantas "estigas" recebida pelos colegas, e pelo sofrimento psicológico em pronunciar o teu nome em público. A solução, que já pude ver muitos a adoptarem, é mudarem de nome quando têm a possibilidade de o fazer. Talvez transformado o "Matuvanga Xinamuti" em "Mateus Xavier", assim fica mais ocidental.
O que muitas vezes nos esquecemos é que Mateus Xavier é um nome português, que portanto, identifica um português. Imaginemos um chinês, com todas as características físicas de um chinês, que ao perguntarem o seu nome responda: chamo-me Pedro da Silva. Todos os que o ouvirem ficarão surpreendidos. Se essa resposta for dada num território distante da China todos pensarão que é um português. Assim como se a resposta for dada no território chinês, a impressão geral será que apesar de ser filho de chineses, o mesmo deve ser um estrangeiro. Tenho a certeza que esse chinês nunca se orgulhará de dizer o seu nome português no seu país, porque deste modo é como se estivesse a ostentar o orgulho em ser colonizado e aculturado.
Mas em Angola acontece o absoluto contrário. Nos orgulhamos em possuir nomes portugueses, e nos envergonhamos dos nossos próprios nomes tradicionais. Socialmente não são nomes apreciados, e a desapreciação poderá ser notada até no local de trabalho. E nem nos apercebemos que deste modo estamos a ostentar mundialmente o orgulho que temos em termos sido colonizados pelos portugueses, e consequentemente termos abandonado as nossas origens. E eu assim me pergunto, que tipo de identidade é essa?

Pertenço a uma sociedade onde é muito mais elegante vestir-se a maneira ocidental. Nesse campo invejo os indianos e os árabes, que apesar de muitas vezes cederem ao fascínio ocidental, não deixam de manterem bem firmes o modo tradicional de se vestir, afirmando desse modo a preservação da própria identidade. Devo sublinhar que essa tendência não é somente angolana, visto que também se verifica em muitos países africanos e não só. Mas em Angola, sobretudo na capital, exagera-se muito.

Pertenço a uma sociedade onde falar línguas nacionais na capital é praticamente um delito. Tente cortejar uma moça depois de ela te ter visto a falar kikongo ao telefone com um amigo! Ela associará logo o facto de estares a falar uma língua nacional com o analfabetismo, com o atraso social. E nem sequer nos preocupamos em aprender as nossas línguas. É mais bonito saber falar perfeitamente o português, o inglês ou francês. Mas a tua língua, aquela que te identifica, nem sequer uma frase sabes formar. Mais uma vez, que tipo de identidade é essa?

Por último, pertenço a uma sociedade onde apesar de tudo a cor da pele ainda conta bastante. Uma sociedade onde "estás claro" é um elogio e "estás escuro" é uma crítica negativa. Não me refiro ao racismo, mas à aquela necessidade frenética em querermos ficar com a cor de pele mais clara.
Esse é o ponto mais crítico e mais desolador, para mim, porque é o mais difícil de se abater. Não existe nenhuma acção governativa que possa incutir na mente das pessoas que a beleza não depende da cor da pele.
Todos os dias deparo-me com pessoas que andam a procura da claridade para a pele. Pessoas que quando apercebem-se que estão a ficar cada vez mais escuras desesperam-se. E pior ainda, os mais claros de pigmentação riem-se dos mais escuros de pele, esquecendo-se que é somente "cor da pele", e que sobretudo estamos no continente africano, onde por regra a cor básica devia ser a cor negra. Como disse, não me refiro a discriminação racial que inexplicavelmente ainda existe Angola, mas àquela convicção psicológica de que a cor clara é mais bonita que a cor negra. É como se um dálmata estivesse convencido que o Pastor alemão fosse o mais bonito, sem saber que são duas raças diferentes, nenhum é mais bonito que o outro, mas trata-se somente de uma questão de gostos. Tem quem prefere o dálmata, assim como tem quem prefere o Pastor Alemão. Mas infelizmente, desde que nascemos, já crescemos com a ideia de que cor a clara é mais bonita, e vivemos na irrefreável luta para ter uma cor mais clara possível, e como se não bastasse, ainda lutamos para que os nossos filhos sejam mais claros que nós.

Por isso chego a conclusão que nós angolanos somos um povo sem identidade. Um povo que se orgulha com a semelhança que ganhou dos colonizadores, que luta para tornar-se como eles. Um povo que ignora frequentemente a beleza da própria cultura e tradição, e apega-se com uma tremenda facilidade às culturas ocidentais. Esta não é identidade.

Eu chamo-me Deslandes Armindo Monteiro, visto-me de maneira ocidental e não falo nenhuma língua nacional. Por isso, com tristeza no coração, afirmo que não tenho identidade. E infelizmente pertenço a um povo também sem identidade.



lunedì 11 marzo 2013

A Propagação do Não Evangelho



Sendo um firme crente em Deus, tenho denotado recentemente uma realidade desagradável que se tem afirmado no Evangelho.

Numa conversa com uma atea, pude denotar que ela - assim como muitos outros ateus - nao é atea porque rejeita a Deus, mas ela é somente "anti-igreja" ou "anti-religião", tudo porque ela considera que todos os evangélicos sao ignorantes. O que nao corresponde a realidade. Mas devo dizer que boa parte das suas críticas têm  fundamento, e são muito ligadas a muita coisa negativa que se tem visto no seio evangélico.

Um evento que vejo frequentemente, é o facto de existirem sempre mais "ex pessoas negativas na sociedade". Ex drogados, ex delinquentes, ex prostitutas... e muitos outros tipos de ex pessoas negativas que encontraram na igreja um meio para sair da ex vida. Isso a princípio é positivo, visto que uma das principais funções da igreja é tirar as pessoas da vida mundana e aproximá-las a Deus. O problema nasce quando essas pessoas tornam-se a maior parte dos membros da igreja, e a impressão que transmite é que muitas delas só se aproximam a Deus quando a próprias vidas tornam-se insuportáveis. Muitas dessas pessoas entregam-se a Deus somente quando parece que estão para "entregar as chaves da vida", e vêm a igreja como a última solução. Quando essas pessoas chegam a igreja, encontram um alívio que inicialmente se pode traduzir numa mudança de hábito, ou na maior parte das vezes, é apresentada a essas pessoas uma nova visão dos seus problemas e a promessa de que num futuro os seus problemas serão resolvidos por Deus.

E muitas dessas pessoas, evolvem-se de tal maneira à igreja, que abandonam completamente todo o tipo de análise da vida social, assumindo uma nova e radical rotina diária, ignorando tudo que não envolve o cristianismo, o que faz com que os ateus - inclusive os agnósticos - pensem que estes não capazes de pensarem com a própria cabeça.

Creio que DEUS não deve ser visto como a última solução na nossa vida, mas sim como a PRIMEIRA solução. Não nos podemos entregar a Deus depois de termos feito e desfeito tudo na vida, vendo santificação como o último horizonte a ser alcançado, em vez de ser o contrário. E mesmo depois de nos convertemos, não podemos ignorar completamente toda a nossa capacidade de raciocínio, deixando-nos levar somente pelo que diz o Pastor. É importante recordar que os Pastores também são humanos, e estão sujeitos aos mesmos erros e tentações na qual estamos sujeitos nós. Essa é a razão pela qual hoje vemos vários Pastores, que evidentemente não se interessam com o evangelho e pensam somente ao enriquecimento pessoal, a arrastarem multidões de crentes, que mesmo vendo as inúmeras polémicas na qual o Pastor está envolvido, preferem seguir cegamente.

Por isso é que hoje em dia, os verdadeiros crentes, que buscam o SENHOR de coração, perdem mais tempo a explicar nas pessoas o que não é evangelho, do que o que é evangelho. Porque o Não Evangelho actualmente está espalhado na maior parte das igrejas evangélicas.

D.M.

venerdì 1 marzo 2013

Quando ama-se mais os cães do que os homens

Nem queria escrever sobre este argumento hoje. Queria escrever sobre os falhanços da democracia representativa, mas nessa madrugada uma outra reflexão me veio a mente. Uma reflexão talvez até mais pertinente. Desde a meia-noite não paro de pensar num evento que aconteceu-me durante a tarde.


Eu estava no super-mercado, a comprar o que nestas bandas chamam por "cibo da single" (comida de solteiro), como já é habitual. Quando chego na caixa, na hora do pagamento, deparo-me com uma senhora muito mal humorada, mal disposta e aparentemente zangada com a vida. A senhora olhava para todos os que a rodeavam com desgosto. Mas isso nem me surpreendeu, porque pessoas como ela encontro quotidianamente. A surpresa surgiu quando a senhora olhou para dois cães que estavam na porta a espera do proprietário, e a sua cara suavizou-se! De repente, foi como se a senhora tivesse visto dois anjos na porta. Tornou-se mansa, alegre, e fazia questão de acarinhá-los. E aí cheguei a conclusão que neste mundo está mais fácil amar aos animais que aos homens.

Tente entrar num bar com os bebés num carrinho de crianças, e verás o desconforto na cara dos presentes. Tente depois entrar com uma velhinha num carro de rodas, e verão a mesma cara de desconforto. Agora entre com um cão, e verás se todos não estarão com uma cara de alegria e simpatia incontrolada!

O facto é que hoje em dia as pessoas preferem amar aos cães que aos seres humanos. E posso até dizer o porquê: nos cães as pessoas encontram a atenção e o afecto que nos seres humanos não encontram; nos cães não encontram a contínua competição mortal, a rivalidade quotidiana; com os cães não existe o desafio sobre quem vestiu mais, quem é mais inteligente, mais rico, mais bonito... e o elenco pode continuar ad libitum. E é o facto de vermos o nosso próximo como nosso inimigo que nos leva a preferirmos os cães, os gatos e outros animais, que o próprio ser humano.

Obviamente não sou contra o amor aos animais. Acho que os animais devem ser amados e cuidados, mas acho errado essa contínua tentativa de humanização os animais domésticos. É tudo uma questão de prioridades. Quando chegamos ao ponto de, ao superar os trinta anos, preferimos ter um animal doméstico do que um filho, acho que estamos a caminhar para o caminho errado.

Esse discurso certamente é válido somente para aos que vivem no ocidente, se bem que alguns casos do género já pude constatar em Angola.

Ficaria contente se visse o mesmo amor que dedicamos aos animais a ser dedicado também aos nossos similares, sobretudo aos bebés e aos idosos. Ou melhor, gostaria mesmo que o amor que dedicamos aos bebés e aos idosos fosse superior. Existe tanta gente boa por aí para se amar!


D.M.

giovedì 21 febbraio 2013

O Julgamento dos Outros


Se há uma "coisa" em que na qual o ser humano mais se preocupa, esta coisa é o julgamento dos outros. O que os outros vão pensar. Tudo o que fazemos, é simplesmente pensando no que as pessoas pensarão. É inútil que neguemos, o homem vive em função do julgamento dos outros.

Quando alguém compra um ROLEX que custa mediamente 5.000,00 USD, qual é o seu objectivo? Comprou para ver horas? Claro que não. Nos dias de hoje onde até um micro-ondas nos diz que horas são, pode parecer ridículo gastar 5.000,00 USD para comprar um relógio. Mas não é. Se tu apareces com esse mesmo relógio numa festa, as pessoas olharão, ficarão todos curiosos. Tem quem só por te ver com o relógio vai querer logo apreciar, tem quem te vai respeitar mais, tem quem se tornará simpático contigo, e tem quem sentirá inveja de ti. E o ser humano gosta de sentir-se invejado, apreciado, bem falado...! Resumindo, o homem conduz a sua vida em função dos outros.

Numa sociedade como a nossa, onde o supérfluo torna-se indispensável para sentirmo-nos diferentes dos outros, acabamos por nos apegar aos bens materiais mais banais, simplesmente para alimentarmos o julgamento positivo dos outros.

Ainda se uma garrafa de água mineral custasse 150,00 USD, só porque tem a escrita "Louis Vuitton Water", tem pessoas que fariam questão de comprar, simplesmente para serem elogiados, apreciados, respeitados, bem falados, invejados, e uma longa série de julgamentos alheios. E nem sequer convém sentir-se em culpa, porque a pessoa que te está a invejar, se estivesse no teu lugar, certamente esbanjaria o seu dinheiros em coisas muito mais fúteis.

Nas redes sociais vejo constantemente pessoas a reclamarem da inveja dos que o circundam, das calúnias, etc, e ainda pede para que cada um preocupe-se com a própria vida! Mas estas mesmas pessoas que reclamam, são aquelas que publicam tudo o que fazem! Se vai à uma festa importante, publica a foto. Se compra um nova roupa, publica a foto. Recebe um presente, publica a foto. Até do que come publica a foto! E eu me pergunto, qual é o objectivo de alguém que publica tudo o que faz? Não é para impressionar os outros e receber um julgamento positivo?

Quando nós vivemos pelos outros, temos que estar conscientes que o julgamento pode ser positivo, mas também pode ser negativo. E é inútil reclamarmos quando as pessoas invejam ou criticam, porque tu não queres que as pessoas não falem de ti, mas que falem bem de ti. Uma pessoa psicologicamente independente, nem se preocupa quando está a ser invejado, mas procura simplesmente fazer uma auto-análise, para descobrir o que fez nascer esta inveja, e poder assim corrigir o próprio comportamento. O resto, se as pessoas falarem ou pensarem, isso não fará a mínima diferença.

A verdade é que nós somos aterrorizados pelo julgamento dos outros. Esse julgamento movimenta a nossa vida. Movimenta todas as nossas acções e todo o nosso comportamento.

Nós gostamos da ideia de ter alguma coisa que os outros não podem ter. Porque, sejamos sinceros, a que serve ser rico se não podemos mostrar aos outros a nossa riqueza? Mas a riqueza o que é? Antes era rico quem tinha um chuveiro e um carro com vidros elétricos. Hoje todos temos chuveiros em casa e carros com vidros elétricos, não deveríamos nos sentir todos ricos? Mas cada vez que se atinge o que hoje é considerada riqueza, a tabela dos desejos é aumentada, e todos seguimos para ter o que os "ricos" têm.

E essa corrida frenética à riqueza, é simplesmente para impressionar os outros. Para ter algo que os outros não têm. Para sentirmo-nos superiores aos outros. Em suma, para termos um julgamento positivo dos outros. Porque, admita-se, se não fosse pelo que os outros vão pensar de ti, não comprarias nem as roupas que compras, não publicarias as fotos que publicas, nem te comportarias em público da maneira que te comportas.

D.M.

lunedì 14 gennaio 2013

A Involuçao dos "Niggers"


Apesar das incríveis e significativas ascensoes de negros em postos de vértice do poder americano - como Barack Obama, Clarence Thomas, etc - ainda continua a se ver os negros a serem continuamente desqualificados, desclassificados, desconsiderados, desonrados e des... muito mais! Porque será? Jà não deviam ter sido superados todos estes problemas, visto que para muitos o Estados Unidos representa a capital do multiculturalismo e da integração?

Normalmente tenho visitado o site www.worldstarhiphop.com, onde tenho visto vários vídeos, normalmente ligados a comunidade negra americana. Os vídeos reflectem o que tem acontecido nos "ghettos" dos E.U.A, os factos mais relevantes, as musicas (raps), etc. Se pode resumir que este é um site dos negros e para os negros.

Não vou comentar aqui sobre as cenas estranhas que tenho visto nos vídeos, mas me focalizarei nos comentários. Os comentários nos vídeos deste site refletem o quão ainda nós (os blacks) estamos recuados no tempo. Estamos numa verdadeira involução. A palavra mais frequente nos comentários é "NIGGER"! A palavra"nigger", ou "nigga" é uma palavra que era usada com os escravos, e em português pode traduzir-se em "preto". Esta palavra foi abolida do dicionário americano por volta de 1960, e o seu uso actualmente é proibido, porque considera-se um acto de racismo. Os negros, na condição em que se encontram, continuam a usar essa palavra, porque a eles, obviamente, o uso dessa palavra não pode ser considerado um acto de racismo.

Mas a palavra "nigger", tendo o significado que tem, se nós queremos que os "pulas" parem de nos chamar de pretos, nao seria melhor nòs pararmos primeiro? E' incrível como em quase todos os comentários tu encontras os negros a chamarem-se de niggers! E' incrível como em quase todos os raps tu ouves a palavra "nigger". Os negros chamam-se de pretos, tendo em conta que é uma palavra que os despreza. Depois ainda nos surpreendemos quando vemos os brancos a fazerem o mesmo.

Outro evento triste para os negros nos E.U.A., é o facto de que movimento cultural e artístico que mais nos representa, isto é o rap, está muito mal etiquetado. O rap da moda é "I got money", "Imma kill that nigga", "I got so many bitc*@#*", "this mother fuc*@#* are hatin'", etc., e normalmente nos videos o cantor apresenta-se em gang, incitando a violência e ao desrespeito das leis! Uma cena muito triste.
Deviamos aproveitar o movimento Hip-Hop para transmitir mensagens significativas, mostrar aos brancos que nòs também somos capazes de pensar, e que nao existe nenhuma diferença entre nòs e os brancos a não ser a cor da pele. Mas nos E.U.A. (e não só). O rap tem exteriorizado uma imagem muito negativa do black people. Visto que este é o movimento cultural negro que mais se expandiu e continua na mao dos negros (diferentemente do Jazz, que ja passou na mao dos brancos), deveria ser muito melhor aproveitado. Deveria ser uma ferramenta para expandir o nosso ponto de vista, o nosso ser, a nossa semelhança intelectual às outras comunidades. Mas nao tem sido assim, infelizmente. Tem excepçoes, mas são muito raras.
 

Basta ver quando o Obama candidatou-se para a presidência da Republica. Todos os negros excitaram-se, contentes por ver um negro a ascender a presidência da república. Mas se for para se fazer uma pequena investigação, poder-se-à descobrir que 90% votaram o Obama pela cor da pele. Poucos sabiam qual era o seu programa de governação. Personagens como o Jay Z, Katt Williams, Samuel L Jackson, etc, sairam em pùblico a dizer que votam no Obama simplesmente porque ele é negro! Imagino o que teria acontecido se Eminem dissesse que vota no Romney simplesmente porque é branco. Seria o caos total.
Devemos dar o exemplo, mostrando que para nós o que importa não é a cor da pele, mas as ideias, os projectos, os programas, etc. Demonstrar que a única diferença é a cor da pele, todo o resto são diferenças culturais, e nada mais.

Mas infelizmente vejo pouco de belo no horizonte. Se os negros nos E.U.A. não darem o exemplo, ficará mais difícil para nós africanos mudarmos, e continuaremos na mesma onda negativa em que nos encontramos, com os brancos a nos desqualificarem e a manterem em vida o imperialismo que jà dura há muitos anos, e em alguns casos pode ser até pior do que a colonização, pelo facto de ser mais difícil de se combater.


"Para o imperialismo é mais fácil dominar-nos culturalmente do que militarmente. A dominação cultural é a mais flexível, a mais eficaz, a menos custosa. A nossa tarefa consiste em descolonizar as nossas mentes" dizia Thomas Sankara.

"Pode ser que vocês não sejam responsáveis pela situação na qual vos encontrais. Mas vos tornareis responsáveis se não fizerem nada para mudar tal situação" dizia Martin Luther King.

D.M.