giovedì 23 maggio 2013

Melancolia do Homem Que Pensa


O Homem Que Pensa vive na constante melancolia.

O Homem Que Pensa fica melancólico quando acorda, abre a janela do quarto e vê as pessoas a preocuparem-se somente com o superficial. Com o vazio. Quando vê pessoas que avaliam-se uns aos outros através do aspecto exterior, como o vestuário e da cor da pele. É como oferecer uma laranja a alguém e essa pessoa comer somente a casca e deitar as gomas. É como comer a película do rebuçado e deitar o rebuçado. O mesmo vê o Homem Que Pensa nas pessoas através da janela, que discriminam-se somente pelo que vêem no exterior.

O Homem Que Pensa gostaria de ter amigos. Divertir-se. Discotecas. Bebedeiras. Desafios. Mas a única coisa que o vê ao seu redor é um tremendo curto-circuito mental. Curto-circuito segundo o qual pior estão os outros, melhor estaremos nós.  O curto-circuito que faz com que se alguém no aeroporto na hora do check-in com um bilhete para a área executiva passa vendo que na área económica nao tem bicha, o estado de humor nao muda. Enquanto se ele ele vê que na área económica tem uma longa fila de pessoas, ele fica contente. Contente de saber que os outros estão a sofrer e ele não.

O Homem Que Pensa acha tudo banal. Tudo sem sentido. Tudo sem nexo. Acha que ou os homens estão todos loucos, ou ele é maluco. Então prefere fechar-se no seu quarto, com a sua melancolia, esperando encontrar um sentido na vida que parece que todos falará encontraram, só ele ainda não conseguiu encontrar. E vive na solidão.

"Existem dois modos para não sofrer o inferno no qual vivemos quotidianamente. O primeiro, que muitos conseguem facilmente: aceitar o inferno e fazer parte dele até ao ponto de não o notar mais. O segundo, é arriscado e requer muita atenção e aprendizagem contínua: procurar e saber reconhecer quem e qual, no meio do inferno, não é inferno, e o fazer durar, e dar-lhe espaço." Italo Calvino



D.M.

giovedì 2 maggio 2013

Facebook, onde anda a magia?




Pode parecer exagerado, mas a mim o Facebook fez atingir um nível de saturação sem precedentes. E a vocês também, mesmo se ainda não se tenham apercebido.

Entrei com entusiasmo. Abrir a janela e dar uma olhadela a amigos distantes, parentes perdidos, conhecidos que simpatizavam, desconhecidos que, lentamente, entravam na tua vida, simpatias inesperadas, imprevistas. Compartilhamentos de paixões, de brincadeiras, de noites a falar baboseiras inócuas, ou goliárdicas.

Depois algo aconteceu.

Talvez seja a multidão alargada, a massa indistinta que chegou, mas nasceu um stream disforme, um fluxo contínuo de palavras. Um conceito e o seu contrário, marés de rancores que se sobem e baixam e chegam a trair-te, deixando-te comprimido entre a vontade de replicar e um tédio mortal.

Coisas do passado, talvez uma noite que pensavas ao futuro.

Prolixidade, mediocridade.

A política, a cultura, a visão do mundo.

As conspirações, a Casta, as riquezas injustas.

Cada um que expõe o seu ponto de vista e tu és obrigado a ler. É como se existissem muitas portas abertas, e veio muita gente, e o rumor do fundo da humanidade, que as vezes é agradável, se tivesse tornado num rumor ensurdecedor.

É como se os rumores ligeiros que chegam da janela aberta, e te fazem companhia como uma brisa, se tivesse transformado num caos de um multidão que grita 24 sobre 24 horas.

Um alarme sempre ligado.

Um subtítulo infinito, sobretudo de baboseiras, que, pouco a pouco, secou as paredes da minha imaginação,  me esvaziou as ilusões sobre as pessoas e me produziu uma contínua dor de cabeça.

Hoje acho que convém voltar à antes.

Quando podia manter a tristeza dos outros fora, e talvez deixar por uma noite a capacidade de abraçar-me lentamente, esquecendo o mundo, que as vezes sente tal necessidade.

Nos tempos em que sabia de ter, como todos, um depreciador movido por invejas ou rancores pessoais mas o podia ignorar porque ele estava aí, e eu estava aqui, e estava protegido de qualquer estocada.

Nos tempos em quem, conhecendo alguém pessoalmente, tinha vontade de conhecer pouco a pouco os lados mais verdadeiros da sua vida, e não como agora que talvez sei já onde fez as compras no dia anterior, e quando faz anos (e que bolo comeu no Domingo passado).

Nos tempos em que os amigos eram verdadeiramente poucos, e eram bons amigos. Eram amigos aos quais podia dizer as coisas mais minhas, e os conhecidos eram tantos, e eram inócuos; nos tempos em que a confidência era uma conquista lenta, e não um direito.

Nos tempos em que escolhia eu com quem discutir, e com quem somente trocar ideias ocasionalmente porque não valia a pena.

E depois tem o teu vizinho que te pede amizade, e tu o manténs em espera.

"Porquê não aceitas o meu pedido de amizade no facebook?".

"Oh, me pediste amizade? Não tinha dado conta, sabes, entro pouco ultimamente".

E depois de aceitares, com ele que comenta somente em maiúsculo porque não vê bem, e depois ainda lhe deves lhe responder.

"Nunca respondes aos meus comentários. E depois estás sempre a reclamar de tudo porquê? não sabia que eras assim tão pessimista".

Sei, sei que os social networks são instrumentos de gestão, e que podem ser usados sem fazer-se usar. Sei que podes ignorar, banar, apagar, sair, caminhar, desligar, e depois voltar, que podes seleccionar, que podes usar pouco, que podes fechar e abrir quando te der na boia.

Mas é um poder somente aparente. Como quando tens em mão um telecomando e pensar de gerir a televisão porque mudas de canal, ou desligas.

Na verdade os canais estão aí, e o televisor não o desligas porque tem uma sugação hipnótica, um condicionamento psicológico, que nos mantém todos aí a fazer as mesmas coisas no mesmo momento.

Sei, sei que é uma lamentação ridícula. E sobretudo porque me estou a lamentar aqui. Ninguém me obriga, ninguém me força. Posso não estar, posso me apagar, posso seleccionar os conteúdos, posso estar calado, posso fazer o que bem me apetece.

Mas eu, este fluxo perpétuo de humanidade fica difícil de tolerar.

Talvez seja melhor voltar a alguns anos atrás  Quando a vida, lá fora, me parecia mais bonita porque estava a ler um livro ou estava simplesmente a olhar para as estrelas. Quando as pessoas com qual conversar se escolhiam uma por uma. Quando a emoção durava, e ao vizinho bastava sorrir e levantar uma mão para dar um olá.



D.M.